Acusado pela Odebrecht de beneficiar a empreiteira em obras no estado, Perillo é candidato ao Senado e vice-presidente nacional do PSDB.Na manhã desta sexta-feira, 28 de setembro,
sob a supervisão do Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público
Federal (MPF) em Goiás, foi deflagrada pela Superintendência de Polícia
Federal em Goiás (PF/GO) operação para cumprimento de 5 mandados de
prisão temporária e 14 mandados de busca e apreensão expedidos pela 11a
Vara Federal da Seção Judiciária de Goiás, nas cidades de Goiânia/GO,
Aparecida de Goiânia, Pirenópolis/GO, Aruanã/GO, Campinas/SP e São
Paulo/SP. O Objetivo é colher provas da prática de crimes de corrupção,
lavagem de dinheiro e associação criminosa atribuída ao ex-senador e
ex-governador Marconi Perillo em colaborações premiadas de executivos da
Odebrecht. São investigados os destinos de aproximadamente R$12
milhões.
A Operação Cash Delivery é um desdobramento das
investigações da Operação Lava Jato e decorre de acordos de leniência e
colaboração premiada firmados pelo MPF Federal com a Construtora
Norberto Odebrecht e seus executivos. Quando ainda era senador e,
depois, também como governador, Marconi Perillo solicitou e recebeu
propina no valor de, em 2010, R$2 milhões e, em 2014, R$10 milhões, em
troca de favorecer interesses da empreiteira relacionados a contratos e
obras no Estado de Goiás.
Além de Marconi Perillo, são alvos da
operação deflagrada hoje, o ex-presidente da Agetop Jayme Eduardo
Rincon, o filho dele, Rodrigo Godoi Rincon, o policial militar Márcio
Garcia de Moura, o ex-policial militar e advogado Pablo Rogério de
Oliveira e o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior.
Cronologia – A
investigação teve início perante o STJ em 09/06/2017. Com a renúncia de
Marconi Perillo ao mandato de Governador de Goiás, o caso desceu para a
primeira instância em virtude da perda do foro privilegiado e foi
assumido pelo Núcleo de Combate à Corrupção do MPF em Goiás, em conjunto
com a Superintendência da Polícia Federal em Goiás (PF) em abril de
2018, com o objetivo de obter provas que corroborassem as declarações
dos colaboradores.
Em julho de 2018, a Justiça Federal autorizou
acesso aos e-mails e aos extratos das ligações telefônicas dos
investigados, bem como às suas respectivas localizações, com base em
informações das antenas das operadoras de celulares (ERBs). Em agosto de
2018, foi autorizado judicialmente o compartilhamento e o uso, nas
investigações, das provas obtidas nas 23a (Acarajé, que teve como alvo
Maria Lúcia Tavares, principal encarregada do departamento de propinas
da Odebrecht, denominado Setor de Operações Estruturadas) e 26a (Xepa)
fases da Operação Lavajato.
A operação deflagrada hoje busca
apreender provas que estejam em poder dos investigados, com a finalidade
de tentar identificar o destino da propina recebida. Cerca de 65
policiais participam da operação.
Corroboração – A
partir da análise do material apreendido com Maria Lúcia Tavares e do
conteúdo do seu depoimento, foi possível identificar que o codinome
“Paulistinha” ou “Carioquinha”, que consta nas planilhas dos sistemas de
controle de pagamento de propina da Odebrecht, como sendo o operador
encarregado de entregar o dinheiro para Master, Padeiro, Calado ou
Patati, codinomes usados para se referir a Marconi Perillo, era o
doleiro Álvaro José Galliez Novis (proprietário da Hoya Corretora de
Valores e Câmbio Ltda, com escritórios em São Paulo/SP e no Rio de
Janeiro/RJ).
Ouvido pela Polícia Federal, Álvaro Novis admitiu
que era encarregado de providenciar a entrega do dinheiro e que, para
isso, utilizava as transportadoras Transnacional, em São Paulo, e Trans
Expert, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Álvaro Novis forneceu planilhas
de controle e extratos dos pagamentos, além de gravações das conversas
telefônicas que, por determinação da Comissão de Valores Mobiliários, a
Hoya era obrigada a fazer e manter, as quais reforçam os indícios de
que, de fato, houve o efetivo pagamento da propina. Álvaro Novis
forneceu detalhes dos pagamentos que realizou, indicando datas e
valores, além de identificar os portadores, encarregados de entregar as
malas e mochilas com o dinheiro em espécie, os quais foram ouvidos como
testemunhas pela Polícia Federal e confirmaram tudo em detalhes.
Dentre
as provas entregues por Novis, há conversas telefônicas e diálogos por
Skype indicando valores e endereços, dos quais se destaca, pela
recorrência, o de Rodrigo Rincon, filho de Jayme Rincon, na rua Haddock
Lobo, Jardim Paulista, região nobre de São Paulo, local para entregas de
propina, principalmente aos policiais militares goianos Sérgio
(assassinado no começo do ano em Anápolis/GO) e Moura, ambos motoristas
de Jayme.
As provas de corroboração obtidas pela Polícia Federal
foram submetidas a perícia, as gravações foram transcritas e o
computador contendo os diálogos de skype foi apreendido. Esse material
foi analisado e cruzado com os extratos das ligações telefônicas dos
investigados nas datas das entregas da propina, com suas respectivas
localizações à época indicadas pelas antenas de celular e com passagens
aéreas usadas por eles. Isso permitiu identificar 21 eventos de entregas
de valores em espécie, no ano de 2014, que totalizam R$10,4 milhões,
feitas a mando e por coordenação do Grupo Odebrecht em favor de Marconi
Ferreira Perillo Júnior:
Os indícios até então colhidos apontam
que Marconi Perillo era o chefe do grupo. Jayme Rincon atuou como seu
braço direito, mantendo contato com os executivos da Odebrecht e
coordenando as atividades dos demais investigados, que tinham a função
de buscar o dinheiro em São Paulo/SP e trazê-lo de avião a Goiânia/GO,
atuando assim como uma espécie de preposto.
Há suspeitas de que
parte do dinheiro foi usada para adquirir um veículo de luxo para
Rodrigo Rincon, que à época era estudante e não possuía renda, no valor
de R$170 mil, pagos em espécie. A compra foi realizada pouco depois de
um dos eventos de entrega de propina.
Prisões – As
prisões temporárias dos investigados, pelo prazo de 5 dias, foram
pedidas para assegurar que não atrapalhem as investigações, destruindo
ou forjando provas. A análise dos
e-mails dos investigados,
autorizada judicialmente, revelou que Jayme Rincon apagou
propositalmente todos as mensagens do servidor em meados de 2016, logo
após a deflagração da 26a fase da Operação Lavajato, que cumpriu mandado
de busca e apreensão no apartamento da rua Haddock Lobo, de sua
propriedade, onde seu filho morava e o principal local de recebimento da
propina, o que indica tentativa de destruir provas. A análise dos
e-mails
revelou, ainda, que Jayme Rincon pagou R$24 mil, em dinheiro vivo, por
um procedimento médico para o filho, o que indica ocultação de sua
origem ilícita.
Por ser candidato às eleições de 2018, a
lei eleitoral não permite que Marconi Perillo seja preso entre 15 dias antes e 2 dias após o pleito.
Assessoria de Comunicação
Ministério Público Federal em Goiás