domingo, 16 de setembro de 2018

A culpa nunca é da vítima.

Fabio Costa Pereira.
Caminhava uma jovem mulher, linda e voluptuosa, vestida de forma chamativa e provocativa-mente, tarde da noite, em uma região de bares frequentada quase que exclusivamente por homens

Diante de tanta provocação , alguns frequentadores do local, não contendo as suas pulsões, estupraram-na

Culpa de quem ? Da vítima, da cultura do estupro ou dos estupradores?

Para os falsos humanistas, cujo foco de preocupação é apenas o “cidadão em conflito com a lei” (adoro eufemismos), das duas uma ou de uma as duas...ou a culpa é da vítima ou da cultura do estupro...ou de ambas...do criminoso nem pensar!!!

Obviamente que, apesar do canhestro pensamento, a culpa é única e exclusiva dos estupradores que resolveram colocar a sua lascívia em ação sem se preocupar com o querer da ofendida.

Antes que algum apressado diga que ela não deveria estar andando por aquela região, não devemos esquecer que as circunstâncias de tempo e lugar pouco importam...as pessoas devem ter o direito de andar pelas ruas de sua cidade e país sem preocupações, a qualquer hora do dia ou da noite.

Nós nos acostumamos com o inaceitável..pululantes no go zones em nossas cidades.

Como sempre a velha e boa inversão de valores...se a vítima foi a algum lugar em que “não deveria” estar, que arque com as consequências (o pior é que tem quem acredite nisso)

Além disso, o fato da vítima usar roupas chamativas, e cada um pode se vestir do jeito que quiser (o nome disso é liberdade), não dá a ninguém, a ninguém mesmo, o direito de “coisificá-la” para atender os seus mais atros desejos.

Se isso é o óbvio, e espero que haja consenso no que digo, no sentido de repúdio de ações como estas, difícil entender como, no caso da tentativa de homicídio do presidenciável Bolsonaro, um absurdo número de pessoas tenha relativizado a conduta do agressor.

Mal a tentativa de homicídio havia sido perpetrada, os ataques, não ao criminoso ou a sua conduta, e sim contra a vítima, iniciaram-se

Disseram que ela, a vítima, por suas fortes posições e o tal discurso do ódio (que é dizer o que eu não concordo), era a responsável por ter sido esfaqueada.

Os ditos tolerantes mostraram toda sua intolerância, aceitando o inaceitável: a destruição concreta do emissor de pensamentos divergentes ao seu!

O pior mesmo foram os ditos isentões.

Estes, em discursos que sempre começavam com o pseudo repudio à agressão, logo na sequência prosseguiam com um interminável by the way justificante da nefasta ação .

Falo no assunto não para defender a candidatura Bolsonaro ou qualquer outra candidatura, e sim para espancar a tese de culpa concorrente, quem sabe principal, da vítima em detrimento da de seu algoz.

É preciso que fique claro, independente do sexo, cor, religião, idade ou o escambau, a vítima NUNCA É CULPADA.

E NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, justifica a conduta de seu agressor.

Simples, não?

Infelizmente, como disse, os tais tolerantes não concordam comigo, talvez por serem eles os intolerantes...

Que Deus , dos “tolerantes”, tenha piedade!!!

O autor é Procurador de Justiça - MP/RS
Publicado originalmente no Facebook do autor.

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Ainda sobre Nárnia...

Proc. de Justiça Fabio Costa Pereira.                                                                                                  ...