terça-feira, 24 de maio de 2016

Fernando Pessoa



Falar de Fernando Pessoa não é apenas falar do maior poeta de língua portuguesa do século XX, mas é, também, falar de uma personalidade extrema­­mente controvertida (como a de todo o gênio) e de uma obra vasta, afinal, Pessoa é vários poetas num só. Criou diversos heterônimos,deixando uma complexa e incomparável obra literária.

Fernando António Nogueira Pessoa, ou apenas Fernando Pessoa, foi um dos maiores escritores da literatura universal e um dos mais aclamados e respeitados poetas da língua portuguesa e da língua inglesa. A figura misteriosa, cuja genialidade fez nascer diversos heterônimos com estilos e biografias próprios, é sinônimo de multiplicidade e versatilidade literária.

Nascido no dia 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa, Portugal, Fernando Pessoa perdeu o pai aos cinco anos de idade, vítima da tuberculose. Passou a infância na cidade de Durban, África do Sul, onde seu padrasto era cônsul português. Aprendeu o inglês e nesse idioma publicou vários livros, sendo que, em vida, o único livro publicado em língua portuguesa foi a obra “Mensagem”. O vasto conhecimento da língua inglesa permitiu que Pessoa traduzisse vários autores, entre eles Lord Byron, Shakespeare e as principais histórias de Edgar Allan Poe, entre elas “O Corvo”.
Foi um dos idealizadores e também diretor da revista Orpheu, considerada a mais influente e importante publicação modernista. Foi considerado pelo crítico literário Harold Bloom um dos 26 melhores escritores da civilização ocidental, importante representante não só da literatura em língua portuguesa, mas também da literatura em língua inglesa.

Quanto mais se pensa que sabia de Fernando Pessoa, quanto mais se investigam seus heterônimos, seus escritos deixados em velhos baús e, principalmente, o misticismo latente de sua vasta obra poética, mais se desvela, mais luz do Alto nos chega refletida em tremenda pureza!

Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa




Fernando Pessoa, o Heteropoeta da Língua Portuguesa Impossível falar de Poesia em Língua Portuguesa e não lembrar de um dos maiores representantes desse gênero.
Entre seus principais heterônimo Alberto Caeiro, considerado o mestre de todos os outros, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Há ainda Bernardo Soares, um semi -heterônimo, assim denominado por apresentar uma linguagem e visão de mundo muito parecidas com a do próprio Pessoa e, conforme suas palavras, Bernardo era como ele, mas desprovido de seu raciocínio e afetividade.
Fernando Pessoa procurou reproduzir em sua literatura algumas questões que o perseguiram durante a sua vida, como por exemplo, o desdobramento do “eu” e a multiplicação de identidades. Ao construir heterônimos tão diferentes e de altíssimo nível literário, ele só prova o quanto é genial; é tanto talento que não cabe em uma pessoa só.

É o próprio Pessoa que assina um dos poemas mais conhecidos em todo o mundo:

Se te queres matar Se te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
De todos os amores por mim vividos até hoje, o seu foi o mais intenso. De toda a saudade, a sua foi a mais forte. De todos os beijos, o seu foi o mais gostoso. De todo calor, o seu foi o mais ardente. De todas as almas, a sua foi a mais gêmea. De todas as amizades, a sua foi a mais verdadeira De toda ânsia de ver a toda a hora a pessoa amada, a sua foi a que mais transpareceu. De todas as esperanças de ter um amor eterno, o seu foi o que teve mais crédito. De toda a vontade de ficar junto, a vontade que me domina é a sua. Por isso de todos os amores eternos por mim prometidos, O seu será o único cumprido. 
Fernando Pessoa

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