domingo, 22 de maio de 2016

Gibran Khalil Gibran

Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem. Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.” Sou um estrangeiro neste mundo.Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim. Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos. Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça. Sou um estrangeiro neste mundo. Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos. Sou um estrangeiro neste mundo. Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa.Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria. 

 Gibran Khalil Gibran

Seu nome completo é Gibran Kahlil Gibran. Assim assinava em árabe. Em inglês, preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada de Khalil Gibran. É mais comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.
1883 - Nasceu em 6 de janeiro, em Bsharri, nas montanhas do Líbano, a uma pequena distância dos cedros milenares. Tinha oito anos quando, um dia, um temporal se abate sobre sua cidade. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos.
A mais conhecida obra de Gibran é “O Profeta”, um livro composto por vinte e seis ensaios poéticos. Sua popularidade cresceu durante os anos 60, porém ele foi publicado pela primeira vez em 1923. O livro “O Profeta”, nunca esteve fora dos catálogos, e foi traduzido em mais de quarenta idiomas, é um dos livros mais vendidos do século XX, nos Estados Unidos.


Em 10 de abril de 1931, Gibran morreu aos 48 anos, no Hospital São Vicente, em Nova York, o câncer se espalhou em seu fígado, e deixou-o inconsciente. Antes de morrer, ele expressou o desejo de ser enterrado em Bsharri, e deixou uma grande quantia em dinheiro para que fosse enviada ao seu país, para que seus conterrâneos permanecessem no país ao invés de imigrar.

As ruas de Nova York fizeram uma vigília de dois dias para a honra de Gibran, cuja morte foi lamentada nos EUA e no Líbano. Haskell, Mariana e Henrietta organizaram o estúdio de Gibran e suas obras, separaram livros, ilustrações, e desenhos, para realizar o sonho de Gibran. Marianna e Haskell viajaram em julho de 1931 ao Líbano, para enterrar Gibran em sua cidade natal.

Os cidadãos do Líbano receberam o caixão com festa, em vez de luto, regozijavam-se pelo seu retorno à sua terra natal, pois a morte de Gibran aumentou sua popularidade. Após o retorno de Gibran, o Ministro libanês de Artes abriu o caixão e honrou o seu corpo, com uma decoração de Belas Artes. Enquanto isso, Marianna e Haskell começaram a negociar a compra do mosteiro carmelita que Gibran pretendia obter.

Em janeiro de 1932, o mosteiro de Mar Sarkis foi comprado, e Gibran mudou-se para sua última morada. Após sugestão de Haskell, seus pertences, os livros que ele leu, e algumas de suas obras e ilustrações, foram posteriormente, enviados para fornecer uma coleção local no mosteiro, que se transformou em um Museu de Gibran.

                                                              Museu Gibran:
O antigo Mosteiro de Mar Sarkis, é um museu biográfico em Bsharri, norte do país, há 120 km de Beirute, e dedicado ao artista, escritor e filósofo libanês, Gibran Khalil Gibran. Fundado em 1935, o museu possui 440 pinturas e desenhos originais de Gibran, e guarda o seu túmulo. Também inclui os móveis e pertences de seu estúdio, quando ele morava em Nova York, e seus manuscritos privados. O prédio que abriga o museu e seu túmulo, a pedido de Gibran, tinha para ele um significado espiritual, por ter sido um mosteiro do século VII, do tempo do eremita Mar Sarkis (São Serge). Em 1975, o Comitê Nacional Gibran restaurou e ampliou o mosteiro, para abrigar mais exposições, e em 1995, foi novamente expandido.

Próximo ao túmulo de Gibran está escrito:

"Eu estou vivo como você, e de pé ao seu lado... Feche os olhos e ao olhar ao redor me verá na sua frente".

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